Desde 1987, o Dalai Lama abre sua casa em Dharamsala, no norte da Índia, uma vez por ano, para “diálogos” de uma semana com um grupo selecionado de cientistas , para discutir sonhos, emoções, consciência, genética ou física quântica.
Em 2004, o assunto analisado foi neurogênese – termo científico para o nascimento de novos neurônios – e a pergunta era: Podemos mudar?
Mencionaram-se na ocasião os resultados de inúmeras pesquisas realizadas por renomados cientistas, dentre eles, Tomas Bjork Eriksson, com pacientes entre 50-80 anos, e Fred Gage. A conclusão delas foi que o cérebro pode mudar sua estrutura física e suas conexões por muito tempo durante a vida adulta.
Igualmente revolucionária foi a descoberta sobre como o cérebro muda.
Nossas ações podem expandir ou contrair diferentes regiões do cérebro. Em resposta às ações e experiências de seu dono, o cérebro aumenta a atividade em algumas regiões devido a serem estimuladas, e diminui em outras, por desuso; forma conexões mais fortes ou enfraquece-as. A maior parte disso acontece em função do que fazemos e do que experimentamos do mundo externo – reflete a vida que levamos, o nosso estilo de vida.
Mas também há indícios de que a modificação da mente pode acontecer sem qualquer interferência do mundo externo. Ou seja, o cérebro pode mudar de acordo com os pensamentos que nós temos. Essas novas descobertas indicam que mudanças no cérebro podem ser geradas por pura atividade mental: ter pensamentos de determinadas maneiras pode restaurar a saúde mental.
Lá também abordou-se uma das pesquisas realizadas por Gage e sua equipe, que possibilitou mostrar como um ambiente estimulador, associado a atividades físicas, pode ajudar a produzir novas células no hipocampo. Eles injetaram a molécula que registra a neurogênese num grupo de camundongos e separaram os animais em dois grupos. Um foi colocado em gaiolas áridas, comuns. O outro, em gaiolas equipadas com roda giratória, e esses camundongos podiam usá-la quando quisessem. O grupo de camundongos adultos que teve acesso voluntário à roda giratória produziu duas vezes mais novas células nos hipocampos do que os camundongos sedentários. Assim, a conexão entre o exercício físico e o ambiente enriquecido se confirmou.
Gage ampliou a experiência com os camundongos em experiências voluntárias e forçadas, e observou-se que o exercício forçado não promove a neurogênese. Correr e fazer outras atividades físicas voluntariamente aumenta a neurogênese e aumenta o aprendizado, mesmo em animais muito, muito velhos.
Uma grande conclusão a que se chegou é que os efeitos das atividades físicas na neurogênese e no aprendizado dependem da livre escolha. Tem que ser um ato voluntário. Mas não acontece somente com a atividade física.
Por esses estudos podemos constatar como nossas escolhas na maturidade podem auxiliar ou prejudicar na recuperação do nosso cérebro. Estilo de vida estimulante, pensamentos positivos, esperançosos, de fé; emoções equilibradas serão ferramentas para rejuvenescer o nosso cérebro.
Temos que querer, desejar e buscar por nós mesmos essa mudança. Pelo que pudemos verificar nessas pesquisas, não adianta o médico recomendar, os filhos insistirem para que façamos algo de que não gostamos, principalmente atividades físicas, que não haverá o efeito da recuperação cerebral.
Por que, então, não escolhermos alguma atividade que nos traga prazer e que provoque a plasticidade cerebral?
Sair da zona de conforto nem sempre é agradável. A decisão será sempre nossa.
Sugestão de leitura: Treine a mente/ mude o cérebro
Sharon Begley
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Editora Fontanar