Apreciação do livro AUSÊNCIA
Autora: Flávia Cristina Simonelli
“O que é um homem sem memória?
Um homem que não se reconhece mais em nenhum tempo, nenhum lugar, nenhum rosto?”
O romance entrelaça a vida do médico neuropsiquiatra Daniel com a da família do paciente prof. Ervin de Apolinário, a esposa Margarida e a filha, Natasha.
Mostra a relutância do Dr. Daniel em tratar do paciente pelo fato de reavivar em sua memória antigas dores – perda da avó que amava muito, com a mesma doença degenerativa e a dificuldade dele em compreender as atitudes dela provocadas pela doença, quando ainda ele era pequeno. E a paixão que nasce entre ele e Natasha, desestruturando seu casamento com Milena, como também o faz indagar Quem sou eu, afinal?
“São as crises que nos põem em movimento.
… Eu acho que a gente no fundo tem medo de ser feliz.
Foge-se da felicidade inventando mil desculpas.”
E as situações difíceis que vão surgindo para a família com o avanço da doença do prof. Ervin, nos esclarecem e nos orientam como prováveis cuidadores de alguém próximo.
“A gente precisa fazer escolhas na vida.
Nem sempre uma escolha é a melhor, mas a necessária.
Sua mãe não pode mais ficar responsável pelos cuidados de Ervin. A clinica recomendada vai devolver a tranqüilidade para vocês.”
“A senhora não o largou. Não pode mais assumir essa situação sozinha.
Aqui ele está muito bem amparado e a senhora vem com freqüência,
está ao lado dele.”
“Pelo fato do Alzheimer ser uma doença sem volta, dá essa sensação de impotência. Mas a única coisa que podemos fazer, além da medicação e do acompanhamento médico, é trazer conforto para a pessoa.
E para isso, quem cuida precisa estar bem,
precisa ter momentos de descanso.
O cansaço e a irritação só fazem mal ao paciente e ao cuidador.
Perder a consciência é perder todas as referências que se teve na vida.
É olhar para o mundo e não se reconhecer.
O que eu sinto, é que meu pai não nos ama mais, porque não nos reconhece.
Como se pode perder o amor?”
Esse romance é uma oportunidade de conhecermos um pouco mais sobre a doença de Alzheimer e refletirmos sobre nosso estilo de vida, de como enfrentamos as adversidade: nos rendemos ao medo ou enfrentamos os desafios? Temos flexibilidade para novas e necessárias adaptações?
Fiquei com muita vontade de conhecer a autora, pela competência e sensibilidade com que abordou o tema. Vamos nos encontrar. Você gostaria de participar desse encontro?